SÁBADO OU DOMINGO?
Agnelo Baltazar Tenório Férrer
Afinal de contas, qual o verdadeiro dia
do Senhor, sábado ou domingo?
Um dos temas mais conflitantes entre as
igrejas evangélicas é sobre a guarda do dia do Senhor, não exatamente sobre a
guarda em si, mas sobre qual seria o dia correto para se fazer isso.
Ou seja, à luz da Bíblia, qual seria o
dia correto que poderíamos considerar como o dia a ser dedicado a Deus, sábado
ou domingo?
Analisando as igrejas que se dizem
cristãs, a esmagadora maioria guardam o domingo, estando os sabatistas em
franca minoria.
Sabemos que antes mesmo da instituição de
lei de Moisés, ainda lá no Gênesis, ao terminar toda a criação, no 6º dia, o
Senhor, no 7º dia (Gn 2:2), descansou, e, claro, não o fez porque estivesse cansado,
nem por necessidade alguma de sua natureza, mas sim Ele o fez para que nós
também o fizéssemos.
O sábado, por tanto, não é coisa da lei
mosaica, mas sim uma instituição divina.
Porém, veio Jesus, o Senhor do sábado, e
junto com Ele veio também o Novo Testamento, cuja doutrina foge de qualquer
pacto antigo, posto que inaugura a Nova Aliança (Hb 7:22), que não mais se
utiliza de sangue de bodes e de touros, mas sim do Sangue do Cordeiro de Deus, que,
como já dissemos, é o Senhor do Sábado.
Os dominicais afirmam que o sábado era
uma ordenança da Velha Aliança, e que a Nova Aliança revogou a necessidade de
se guardar o sábado, afirmam ainda que quando o Novo Testamento faz referência
ao dia do Senhor, tal dia sempre é o domingo, e que, de todos os Dez
Mandamentos, o único que não encontra confirmação neotestamentária é justamente
o 4º mandamento, que diz “lembra-te do dia do sábado para o santificar”.
Os sabatistas, em contrapartida, afirmam
que o próprio Jesus afirmou que seus ouvintes deveriam orar para que a fuga da
Grande Tribulação (Mt 24:20) não ocorresse no sábado. Alegam ainda que o sábado
deve ser guardado pois foi ordenança divina instituída no Éden, além de que
seria um mandamento inserido no decálogo, ou seja, nos Dez Mandamentos.
Particularmente não gosto muito do
domingo. Não que haja algum motivo especial, ou espiritual, nem que minhas
predileções pelo dia da semana tenham alguma importância para o tema abordado
(nem para tema algum!). Mas a verdade é que nunca gostei muito do domingo,
pois, mesmo gostando da igreja e da Escola Bíblica, o domingo era um dia onde,
mesmo não havendo aula (confesso que nesse ponto eu era grato ao domingo), as
lojas eram fechadas, e as ruas estavam desertas, o que causava em mim uma certa
melancolia.
Outro dia assisti um sabatista pregando
na TV, enfatizando repetidamente a importância de se guardar o sábado. Ele deixou
bem claro que a guarda do sábado não de dava para a salvação das pessoas, mas
sim como uma obediência à Lei do Senhor (não o entendi! Obedeço só por obedecer?!).
No entanto, mesmo sendo sincero em relação a tal verdade (que a guarda do
sábado não é causa vital para a salvação dos indivíduos), ele porém tratou o
sábado muito mais como um ser vivo onipotente, que tem poder para operar bênçãos
e proteção naquelas pessoas que o guardam.
Ele falou algo do tipo: “o sábado te abençoa”, “o sábado te protege”, “o sábado de deixa mais próximo de Deus”,
além de algumas outras ideias que me fizeram pensar que para aquele pregador o
sábado estaria muito mais para um ente personalizado, um ser vivo como dito, ou
uma divindade talvez, do que propriamente para um dia da semana, que aliás era
o dia em que minha mãe fazia a feira (talvez por isso eu goste mais dele do que
do domingo!).
Aquele pregador parecia mais um católico
falando sobre Maria a mãe de Jesus, do que propriamente de um dia da semana.
Sinceramente, se eu não soubesse o que
era o “sábado”, após ouvir o pregador da TV, certamente pensaria que o “sábado”
era o nome de algum ser místico e poderoso, ou então que seria um objeto mágico
que, uma vez a pessoa não perdendo-o, mas guardando-o fielmente, seria
abençoado por ele. Jamais imaginaria que o “sábado” era o nome dado a um dos
dias da semana.
Mas então, sábado ou domingo, qual
devemos guardar?
É verdade que o Novo Testamento nos
afirma que a lei mosaica foi abolida quando do surgimento do Messias. O próprio
Senhor Jesus disse que a lei e os profetas vigoraram até João Batista (Lc
16:16). Em Atos vemos a realização do primeiro Concílio da Igreja, o qual ficou
conhecido como Concílio de Jerusalém, e que se originou da controvérsia acerca
da necessidade ou não da circuncisão, mas que abrangeu, na verdade, a
necessidade ou não de se guardar a lei mosaica. E o resultado do Concílio foi
que: eles se abstivessem da prostituição, da carne sufocada, dos ídolos e do
sangue, e nada foi dito sobre o sábado. Em Romanos vemos que a nossa justificação
vem pela Graça e não pela lei (3:28). Aos Gálatas Paulo é ainda mais
contundente, afirmando que estão separados de Cristo os que querem ser justificados
pela lei (5:4). Além de outros textos que comprovam a não necessidade de guarda
sabática.
Por outro lado vemos uma certa interpretação
muito expansiva dos dominicais, ao se utilizarem de alguns textos para
defenderem a guarda do domingo. Segundo os historiadores, teria sido o
imperador Constantino quem ordenou que se guardasse o domingo.
Todavia, deixando de lado todo amor às
placas de igreja, se quisermos de fato ser sinceros, a verdade é que não existe
um texto claro no Novo Testamento, ordenando que os cristão deveriam guardar o
domingo. Se algum texto sagrado do Novo Testamento fez referência ao domingo,
como sendo o dia do Senhor, além de ser muito sutil, isso não significa dizer
que se deve sabatizar o domingo.
Por tanto, mais uma vez se pergunta: sábado
ou domingo, qual devemos guardar?
Resposta: NENHUM!
Isso mesmo, NENHUM!
Vou dizer de novo: NENHUM!
Causa-me tristeza que às portas da volta
de Cristo, os crentes ainda não tenha compreendido isso: não há mais dia do
Senhor, pois todos os meus dias são do Senhor.
Escrevendo aos Gálatas, Paulo diz que se
eles estavam fazendo a guarda de dias, meses, tempos e anos, então, afirmou o
apóstolo dos gentios, “temo que a vosso
respeito tenha eu trabalhado em vão” (Gl 4:10,11).
Ora, esse texto não deixa margem para qualquer
dúvida, porém os dominicais aplicam-no apenas aos sabatistas. Ora, porque
aplicar apenas ao sábado, e não ao domingo também?! No entanto, a claridade do
texto mostra que ele é um princípio basilar da Palavra de Deus.
Vejamos o seguinte: quando analisamos
Gálatas 4:10,11, juntamente com Colossenses 2:16,17, onde Paulo diz que os
irmão em Colossos, não deveriam deixar que ninguém os julgasse em relação ao
que eles bebiam, comiam, por causa dos deias de festas, ou de lua nova, ou de
sábados, pois todas as coisas são sombras de Cristo (Cl 2:16,17), nós chegamos
à conclusão que não há mais necessidade alguma de guardamos determinado dia da
semana específico. Nem o sábado, nem o domingo.
Nesse ponto, nós devemos entender a
essência da Palavra de Deus: (1) Estamos crucificados com Cristo, e não vivemos
mais, porém Cristo é quem vive em nós (Gl 2:20); (2) Nós não apenas somos um em
Cristo, mas somos de Cristo (Gl 3:28); (3) Nós não vivemos para nós mesmos,
pois se vivemos, é para o Senhor que vivemos, se morremos, é para o Senhor que
morremos, de forma que, mortos ou vivos, somos do Senhor (Rm 14:7,8); (4) Nosso
corpo não é mais nosso, mas sim de Cristo, pois fomos comprados por preço (1 Co
6:15,20); (5) Somos escravos de Cristo (1 Co 7:22); (6) Somos povo adquiridos
por Deus (1 Pe 2:9); e etc.
Vários outros textos nos comprovam que pertencemos
ao Senhor, somos sua propriedade, e quando a Bíblia nos diz isso, não está
usando uma linguagem poética, mas está usando uma linguagem literal, muitas
vezes empregando termos utilizados nas transações mercantis (p. ex., “tetelestai”, Jo 19:28-30).
Do Senhor é a Terra, não apenas uma parte
dela, mas a sua totalidade, e não apenas a Terra é do Senhor, mas também os que
nela habitam (Sl 24:1). Além do mais, tudo é dEle, por Ele e para Ele (Rm
11:36), e todas as coisas foram feitas por intermédio dEle, e sem Ele nada do
que teria sido feito se fez (Jo 1:3).
Somos de fato e por direito pertencentes
ao Senhor. De fato, porque Ele nos criou. Por direito, porque além de nos criar,
também nos comprou com o seu Sangue.
Apenas a título de exemplo, podemos dizer
que se existisse um documento listando especificamente tudo o que pertence ao
Senhor, em um dos itens constaria: “Os seres humanos”.
Então, diante disso, em referência à
questão do sábado X domingo, podemos afirmar que não há outra conclusão, senão
que não há mais dia do Senhor, pois agora todos os nossos dias são do Senhor.
Sendo propriedade, sendo escravo, sendo
mera criação, sendo comprado, Cristo vivendo em mim, então todos os dias da
minha vida são do Senhor. Todos os dia da semana devem ser um sábado de
santidade e adoração, bem como um domingo de serviço e consagração.
Quem acredita que dando um dia ao Senhor
está sendo um servo fiel e dedicado, ainda não entendeu a obra vicária de
Cristo na cruz do Calvário!
Ora, qual o escravo que não vive todo os
dias para o seu Senhor?!
Logo, é errado dedicarmos o domingo ou o
sábado para irmos à igreja? De forma alguma, mesmo porque, durante a semana,
via de regra, trabalhamos, e não podemos nos dedicar integralmente tanto quanto
podemos nos dias de folga.
Seria então erro alguém dedicar-se mais
nesses dias ao Senhor? De forma alguma, pois há quem faça diferença entre dias,
outros julgam iguais todos os dias, o importante é que se esteja inteiramente
convicto do que se faz (Rm 14:5).
Quer guardar o sábado ou o domingo?
Guarde, mas sabendo que está fazendo isso
apenas por vontade própria, e que em nada vai auxiliar na sua salvação. Sabendo
também que aquele que não guarda dia, como você, em nada é mais fraco.
Assim, o erro é afirmar que a guarda de
determinado dia irá influenciar na salvação de alguém, ou que é obrigatório na
Nova Aliança.
Jesus não aboliu a lei, mas tornou-a mais
profunda no Novo Testamento, pois se homicídio era tirar a vida de alguém,
agora homicídio é aborrecer o irmão; se adultério era a conjunção carnal, agora
basta um olhar de desejo; se bastava dar o dízimo, agora devo dar o que for
necessário; e se havia um dia de dedicação ao Senhor, agora todos os dias devem
ser dedicados a Ele.
Em suma, a Nova Aliança veio tirar os
limites que havia em nossa vida com Deus, fazendo com que minha vida seja, em
todos os aspectos, ilimitada para o Senhor.
Porém, se ainda insistem em manter a
guarda de um determinado dia da semana, mesmo após tudo o que a Bíblia diz,
então, proponho a criação de um novo dia da semana chamado “Sabingo”, iniciando-se
ao meio dia do sábado, e findando-se ao meio dia do domingo.
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